17 fevereiro 2009

C1.2 - O Caminho

André saia do comboio, estava cansado, ensonado e com uma certa fome, mas lá no fundo isso não o importava. Via isso como parte da sua condição humana e quanto a isso não havia muito a fazer. Decidira comer qualquer coisa pelo caminho da estação até sua casa e quanto ao resto seria resolvido no seu devido tempo. Enquanto caminhava pensava na sua vida, nos seus estudos e no que iria fazer quando chegasse a casa. Não tinha nada de especial para fazer pelo que iria por-se em frente do computador, talvez dar uma vista de olhos numa qualquer matéria esquecida nas mãos do tempo. Já não pensava no rapaz com o Ambiente de Trabalho cheio de icons nem na criança do banco de trás que o observara com a curiosidade própria da idade. Apenas caminhava com a cabeça na lua, até que de repente alguma coisa o despertou, uma rapariga. Nunca tinha visto aquela rapariga em toda a sua vida e possivelmente nunca mais a veria, mas os seus traços faciais empurraram a memória de uma rapariga que conhecera e por quem se apaixonara. Tinha sido à muito tempo e já pouco ou nada sentia por ela, no entanto a dor da rejeição ainda o atormentava. Já se tinha apaixonado por duas ou três raparigas durante a sua existência, no entanto nunca fora correspondido. Interrogava-se se alguma vez iria encontrar aquela pessoa especial com quem quereria passar o resto da sua vida e respondia-se negativamente. Pensava em qual das personagens principais do livro que andava a ler se identificava mais, no entanto havia aquele pormenor na sua vida amorosa nunca correspondida que o separava de todos eles. Todas aquelas personagens de uma forma ou de outra, com mais ou menos separações e com mais ou menos traições acabavam por ter alguém especial com eles.
Parou para comprar uma sandes e continuou a andar. Para André andar na rua à noite fazia com que ele se sentisse-se vivo. O perigo, que a bem verdade não era assim tão grande, mantinha-lo desperto e alerta numa sensação que ele aprendeu a gostar na sua vida tão sem sal. Pensava nas diferenças entre o amor e o ódio e como é possível amar e odiar uma mesma pessoa. Lembrava-se como aquela rapariga em quem confiou, contou-lhe o que a ninguém tinha contado e esperou o seu melhor e acabaria por deixar-lo uma vez mais desiludido. Não esperava a perfeição vinda dela, sabia por experiência própria que ninguém é perfeito, mas mesmo assim as falhas que ela lhe mostrara formaram um poço de ódio no seu coração. Assim, agora sempre que a via ou sempre que pensava nela, dividia-se entre uma parte que a queria amar e outra que a queria odiar mas, no fundo não sentia nada por ela. Acabaria por chegar a casa, pousar as malas no chão e tal como tinha previsto sentou-se em frente ao computador, procurou as últimas novidades daquele mundo virtual deixou um qualquer comentário num qualquer site e viu os seus emails. Como sempre não havia grandes novidades. Passou por mais um ou outro site e foi deitar-se. Na cama continuava a ler o seu livro e continuava a interrogar-se sobre a personagem com a qual melhor se identificava.

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