04 julho 2006

Sinto-me cercado e abandonado.


Desloco-me por entre ruínas de um ser
Que noutra altura foi grande, gigantesco!
Movo-me por entre este ser nunca amado,
Mas belo em toda a largura do meu ver.
Sinto, vindo de algures, um ar fresco
Que aquece a minha existência.
Examino as ruínas enquanto penso
Na sua derradeira experiência.
E no entanto… parece tão vivo…
No ar voa um branco lenço.
Pelo ar vai lento e esquivo.
Cai no chão e lentamente enegrece.
E lentamente toda a ruína enegrece.
O ar fresco torna-se gélido,
Tão frio que o meu rosto fica ferido.
Agora o céu é negro, mais que a noite!
Ao longe avisto a senhora da foice.
Lentamente as pedras voltam-se a erguer,
Numa imagem tão difícil de crer!
Erguem-se numa nova conjuntura,
Nova imagem cheia de escuridão.
Neste novo ser não há nenhuma fissura!
Caio pasmado no frio chão,
É medo o que me atinge!
Olho a senhora da foice ao longe
Que agora ergue a sua foice no ar.
Que posso eu fazer? Nada! Nada!
Ela aproxima-se de mim. O que sou eu?
Sei que ela me quer matar…
Olho nos olhos da desalmada,
E nesse instante a minha vida estremeceu.
Sinto a minha pele a ser rasgada,
Enquanto dou um grito de dor.
A morte aproxima-se, mas ainda está longe,
O meu nariz sente um crescente fedor.
Todo o meu corpo está intacto,
Mas dói tanto e cada vez mais.
Porque estou eu aqui e logo nesta hora?
Quem foi este ser e o que é ele agora?
Vem a mim uma antiga reza, acredito!
“Anjinho da guarda minha doce companhia,
Guardai a minha alma de noite e de dia!”
E continuo a minha luta com o desconhecido,
Na esperança de um dia descoberto,
Com a certeza de um futuro incerto.

Sem comentários:

Enviar um comentário